Volvo Cars Brasil teve o que comemorar entre 2016 e 2021. A montadora sueca saltou de 3,4 mil vendas anuais para 8,2 mil no período ao disponibilizar aos clientes um portfólio com veículos à combustão, híbridos e 100% elétricos. A curva ascendente se manteve, inclusive, durante a fase mais crítica da pandemia, mas sem efeito duradouro. Mas foi no ano passado que a companhia sucumbiu aos efeitos do desajuste da cadeia produtiva e viu os negócios no País despencarem 36%, para 5,2 mil unidades. “Além da falta de componentes, fomos afetados pela política de Covid zero na China, que fechou as fábricas”, afirmou à DINHEIRO Luis Rezende, presidente da Volvo Cars para a América Latina. “O X-60 vem de lá, a exemplo de muitos componentes para abastecer as fábricas na Europa. Foi um conjunto de fatores que prejudicaram o nosso desempenho.”

A Volvo tem três fábricas na China (Chengdu, Daqing e Taizhou), além de duas na Europa (Gotemburgo e Ghent, ambas na Bélgica) e uma nos Estados Unidos (Carolina do Sul). O problema de falta de componentes é visto como ultrapassado pelo dirigente, que aposta na comercialização recorde de 10 mil unidades no Brasil este ano, metade delas de modelos 100% elétricos. Se confirmado, o volume vai representar o melhor desempenho na história da marca no País. Para isso, a aposta está no portfólio já disponibilizado, além do início da pré-venda de dois modelos: o EX90, que já foi divulgado globalmente e de um SUV compacto que não teve o nome revelado, mas que segundo a imprensa especializada trata-se do EX30.

O novo compacto será o veículo de entrada da bandeira no Brasil, com preço abaixo do modelo XC-40 Recharge, que custa a partir de R$ 330 mil. “Esse valor é equivalente ao de carros do mesmo segmento de outras marcas premium, só que à combustão”, disse. A pré-venda dele e do EX90 deve ser iniciada no último trimestre deste ano, com previsão de entrega no começo de 2024. Os valores também não foram divulgados.

No que depender do balanço de emplacamentos dos dois primeiros meses de 2023, a Volvo mostra energia para alcançar o recorde estimado por Rezende. Os números de fevereiro da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) colocam os veículos da marca na liderança em duas das três categorias premium entre SUVs e crossovers. Entre os automóveis de entrada, o XC40 vendeu 336 unidades, enquanto o Audi Q3 foi o segundo colocado, com 198. Considerado apenas o mês de fevereiro, a Volvo comercializou 180 exemplares do modelo, quase o dobro do número registrado anteriormente (91), na comparação anual.

Na categoria intermediária, o X60 segue como líder disparado da montadora. Já foram comercializadas 775 unidades no primeiro bimestre de 2023. Sendo 577 em janeiro e 198 em fevereiro. Na comparação com o segundo mês de 2022, o número se manteve praticamente estável – 201. E entre os modelos da última faixa, a mais cara, o Volvo XC90 ficou em segundo lugar, com 143 vendas no bimestre, contra 183 da Porsche Cayenne, líder. Foram comercializadas 86 unidades em fevereiro do modelo sueco, frente a apenas 12 no mesmo mês do ano anterior.

A expectativa do executivo em relação ao mercado brasileiro se estende à América Latina. Apesar da recente queda nas vendas no Brasil, líder absoluto na região, Rezende destacou recorde de negócios em Porto Rico, além de crescimento no México. “Para 2023, a previsão se mantém, então vai ser o melhor ano”, disse. “Estou atualizando para 21 mil carros negociados na América Latina, um ano recorde. O melhor do México, o melhor da história dos importadores, o melhor da história do Brasil.”

SEM PERDER A ENERGIA Montadora sueca promete investir R$ 12 milhões na instalação de 15 eletropostos durante a segunda fase de projeto que visa ligar o País. (Crédito:Divulgação)

Com o portfólio completo, incluindo o novo SUV compacto, o presidente acredita que a Volvo vai chegar no Brasil e na América Latina a quase 70% das vendas em carros 100% elétricos até o final de 2024. “Isso nos deixa muito confiantes na estratégia da empresa. A nossa expectativa de volume para esse carro também é bem alta.” A Volvo tem meta global de fazer com que os elétricos correspondam a 50% das vendas até 2025, mas a operação brasileira vive a expectativa de antecipar o prazo. O objetivo maior é que, até 2030, todos os veículos comercializados pela montadora no mundo sejam elétricos.

Ao mesmo tempo em que diversifica o portfólio, a Volvo expande a rede de carregadores para atender à crescente demanda no País – atualmente 135 mil veículos eletrificados em circulação pelas ruas, segundo dados de fevereiro da Associação Brasileira do Veículo Elétrico. A montadora investe R$ 10 milhões para a instalação de 13 carregadores ultrarrápidos (DC) ligando São Paulo ao interior e aos estados do Paraná e parte de Minas Gerais. Sete deles já estão em funcionamento e os demais devem entrar em operação até o fim do semestre.

Antes mesmo de a primeira fase do projeto chegar ao fim, a Volvo anunciou o início da segunda etapa. A empresa vai aportar R$ 12 milhões para a implantação de mais 15 eletropostos com outras praças em Minas Gerais e a chegada aos estados de Goiás, Santa Catarina, Mato Grosso, Paraná e Rio de Janeiro. “Somos líderes em vendas de carros híbridos e elétricos e este é o nosso legado: promover a infraestrutura não só aos clientes da marca, mas também para todos os proprietários de veículos elétricos no País”, afirmou Marcelo Godoy, diretor de Finanças da Volvo Cars América Latina e de Operação de Infraestrutura de Carregamento no Brasil.

A segunda fase do programa é realizada em parceria com a Vibra (antiga BR Distribuidora), empresa multiernergia, e está prevista para ser concluída até fevereiro de 2024. São cinco etapas no total. Se levados em conta apenas os carregadores de carga lenta (AC), são 1 mil eletropostos da marca pelo País, segundo o executivo, que cobrem mais de 3 mil quilômetros de rodovias.

PARALISAÇÃO Enquanto a Volvo projeta recorde de vendas no ano, outras montadoras que atuam no País desaceleram as máquinas em decorrência da queda nos negócios. A medida visa evitar acúmulo de grandes estoques. Fábricas das marcas General Motors, Hyundai, Volkswagen, Stellantis e Mercedes-Benz irão parar nas próximas semanas para adequar a produção à demanda e evitar estoques elevados. Apesar de as vendas no primeiro bimestre terem sido 3,8% superiores ao mesmo período do ano passado (199,6 mil contra 192,2 mil), o setor tem sido impactado pela falta de componentes, alta dos juros e pelos preços elevados dos veículos.