Arigor, o título desta reportagem contém uma imprecisão. O executivo carioca filho de espanhóis Sérgio Lires Rial não se enquadra na definição de um banqueiro típico. Não é proprietário de um banco. Tampouco é um profissional que passou toda a vida no mercado financeiro. Ao contrário, ele tem uma longa experiência na indústria de alimentos. Trabalhou na Cargill entre 2004 e 2012, de onde saiu para presidir a Seara Alimentos, onde ficou até 2015. Agora, Rial vai presidir a Americanas, cargo que deverá assumir em janeiro de 2023.

A melhor repercussão sobre sua indicação para o cargo, anunciada na noite da sexta-feira (19) não foi nenhum dos tradicionais comunicados corporativos, mas o preço das ações. Até a quarta- -feira (24), a alta dos papéis da Americanas havia sido de 41,4%. A percepção do mercado é que a vinda de Rial deverá sacudir as operações da tradicional varejista, que vem sendo preterida na Bolsa em comparação com a concorrência.

Rial é tido como um executivo capaz de revolucionar empresas. Sua atuação no Santander é prova disso. Até sua chegada, o banco de origem espanhola vinha atravessando um caminho tortuoso no Brasil. Após ter comprado vários bancos médios entre 1997 e 1999, o Santander abocanhou o Banespa no ano 2000 e levou vários anos para absorver o gigante que havia comprado. Em 2008, a crise do subprime fez os holandeses do ABN Amro venderem suas operações não europeias. O Santander ficou com a fatia brasileira e assumiu o desafio de incorporar um banco do mesmo tamanho, mas com uma cultura radicalmente diferente.

Quando o processo estava concluído, a filial brasileira do Santander tinha ilhas de excelência e atividades com desempenho ruim. Rial, que definiu sua função como um “desentupidor de canos”, concentrou sua atenção na melhoria dos processos e na busca por eficiência. A comparação entre dois números mostra os acertos. Rial assumiu o cargo em 2015. No ano anterior, a rentabilidade patrimonial do Santander havia sido de 4%, a pior entre os grandes bancos de varejo. Para comparar, a rentabilidade do Itaú Unibanco foi de 20,9% Em 2021, a rentabilidade patrimonial do Santander foi de 18,9%, ante 16,9% do Itaú Unibanco.

PARALELOS Há vários pontos em comum entre o Santander de 2015 e a Americanas de hoje. Fundada no início do século passado, seu controle foi assumido em 1993 pelos executivos do Banco Garantia, capitaneados por Jorge Paulo Lemann. Nos anos que se seguiram, a empresa liderou a inovação no varejo. No entanto, recentemente tem havido problemas, especialmente no comércio eletrônico. No mais recente, em fevereiro, seu portal na internet ficou fora do ar por vários dias devido a um ataque hacker. Além disso, a companhia está atrás da concorrência em sua integração com o sistema financeiro. “Espera-se que Rial contribua para o avanço da Ame, a plataforma financeira da Americanas, integrando de forma mais eficiente o digital à operação da companhia, algo que a empresa tem tido dificuldades de executar”, escreveram os analistas da Levante Ideias de Investimentos ao comentar a transição.

Outro ponto com expectativas positivas é a comunicação com investidores e analistas. No fim de 2021 a companhia realizou uma reestruturação societária que unificou suas ações e uniu o varejo físico e o digital, representado pela B2W. Isso criou a Americanas S.A., uma empresa sem controle definido. À época o processo foi considerado complexo e confuso. Agora, a expectativa é que a rede de varejo melhore sua interlocução com o mercado. Inclusive para avançar no processo de transformação financeira. Segundo um banqueiro de investimentosque conhece o assunto, não se descarta a hipótese de uma listagem futura das atividades digitais da empresa. Aproveitando o nome, no mercado americano.