Propulsores híbridos a etanol, a gasolina, a hidrogênio, 100% elétricos… A indústria automotiva mundial tem adotado diferentes caminhos para reduzir as emissões de dióxido de carbono em seus veículos. E a Stellantis, quarto maior grupo global do setor — dona das marcas Abarth, Chrysler, Citroën, Dodge, Fiat, Jeep, Peugeot e RAM —, pretende investir mais do que os rivais somados na América do Sul, a partir de 2025, na produção de veículos híbridos e elétricos. A informação foi revelada por Antonio Filosa, presidente da companhia para a região. “O meu próximo ciclo, se aprovado, será muito maior do que a soma dos meus competidores.”

Com três fábricas no Brasil que se somam a outras três no continente (duas na Argentina e uma no Uruguai), a Stellantis realiza até 2025 um ciclo de investimentos de R$ 16 bilhões na região, com plano de lançar 43 veículos. Diferentemente de rivais como GM e Ford, que irão apostar em modelos movidos exclusivamente por bateria, a empresa europeia não descarta uma produção local de motores híbridos a etanol e híbridos flex, que se movem com apoio de eletricidade e ainda utilizam motores que queimam mistura de gasolina com etanol. A decisão se assemelha à de concorrentes como Volkswagen e Toyota.

Para embasar a sua posição, a Stellantis realizou, em parceria com a Bosch, um estudo sobre a pegada de CO2 de modelos com três diferentes tipos de propulsão. O automóvel foi abastecido com etanol e comparado em tempo real com a mesma situação de rodagem em três alternativas: gasolina; 100% elétrico (BEV) abastecido com a matriz energética brasileira, que tem fornecimento de energia proveniente de fontes mais limpas; e 100% elétrico (BEV) abastecido na matriz energética europeia, que tem como principal fonte o carvão (termelétricas), com alta emissão de poluentes.

Após 240,49 km rodados, os dados mostraram que o carro elétrico a bateria abastecido com a matriz elétrica brasileira é a opção que menos emite CO2 no ciclo completo (21,45 kg), seguido pelo carro a etanol, que emitiu 25,79 kg de CO2. O veículo 100% elétrico europeu ficou na terceira posição, com 30,41 kg, à frente apenas do abastecido com gasolina, com 60,64 kg. “Os resultados comprovam as vantagens da matriz energética brasileira, principalmente a importância dos biocombustíveis para uma mobilidade mais sustentável”, disse Filosa.

O estudo é um importante passo da montadora para cumprir o Dare Forward 2030, plano estratégico fortemente baseado na eletrificação que projeta a descarbonização completa de todo o ciclo de produção até 2038, com redução de 50% já em 2030. Nele, a Stellantis determinou que a participação de veículos elétricos a bateria em 2030 responderá por 100% das vendas na Europa, 50% nos Estados Unidos e 20% no Brasil. Para atingir o seu objetivo, a companhia planeja oferecer globalmente 75 modelos de propulsão elétrica (BEV), que representarão vendas anuais de 5 milhões de unidades em todo o mundo. Para tanto, investirá mundialmente 30 bilhões de euros até 2025 em eletrificação e desenvolvimento de software.

O planejamento da Stellantis é reforçado com a construção de cinco fábricas de baterias para veículos com capacidade para fornecer até 400 gigawatts por hora em produção de baterias até 2030. E a América do Sul, na visão de Filosa, tem muito potencial na oferta de matérias-primas para as baterias, casos de lítio, cobalto e níquel. O Brasil tem um grande projeto de mineração de lítio em Minas Gerais. Há também 80 projetos de minas de lítio na Argentina e nove no Chile.

No Brasil, a Stellantis comercializa atualmente nove veículos híbridos e elétricos das principais marcas do grupo na América do Sul, incluindo utilitário esportivo e vans comerciais. Mas todos os modelos são importados. Para o presidente do grupo, somente a partir de 2026 e 2027 o País terá um movimento mais relevante de venda de veículos eletrificados. A companhia está testando os mercados para definir quando poderá produzir automóveis na região. Enquanto isso, celebra a liderança no Brasil e em outros países. Passados três meses em 2023, o grupo comercializou 143 mil veículos entre janeiro e março, com uma participação de mercado de 32,7%. Quatro modelos produzidos pelas empresas da holding estão entre os dez mais vendidos do País: Fiat Strada, Jeep Compass, Fiat Argo e Fiat Mobi.

PORTFÓLIO EM CRESCIMENTO O Jeep é um dos nove modelos eletrificados disponibilizados pela Stellantis no País. (Crédito:Divulgação)