Houve um tempo em que as startups viviam uma história perfeita. Investidores para todos os lados e rodas de captações com frequentemente. No entanto, esse cenário só era possível devido aos juros baixos, com uma taxa Selic em 2% ao ano. Agora, com as taxas a 13,75% ao ano, há uma fuga de capital para a renda fixa.

Isso prejudicou as startups, que ficaram sem dinheiro para se financiarem e tiveram de reduzir suas equipes. Mesmo assim, muitos empreendedores não desistiram e continuaram atrás de novos aportes.

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É o caso de Fabrizio Postiglione, dono de uma startup farmacêutica que produz e vende medicamentos à base de cannabis. Ele foi um dos expositores da Digitalks Expo 2022, realizada nos dias 24 e 25 de agosto. Na feira, ele apresentou sua empresa, cuja criação foi motivada por uma doença na família.

Paciente de câncer, o pai de Fabrizio desenvolveu um quadro de ansiedade crônica. “Chegou um momento em que os medicamentos para a ansiedade não faziam efeito. Então, ele preferiu não tomar os remédios”, disse. Nesse momento, o empreendedor foi atrás de soluções e encontrou a cannabis.

Sua companhia, chamada Remederi, iniciou suas atividades em 2019 e já recebeu investimentos. Atualmente emprega 25 funcionários e tem uma meta de faturar R$ 10 milhões em 2023. De acordo com Postiglione, um dos motivos para buscar investimentos é a aquisição de uma fábrica própria, visto que a produção é terceirizada.

Ele reconhece, no entanto, que o cenário macroeconômico está difícil para as startups. “Ainda assim, se o investidor entrar na minha startup hoje ele pode vender o percentual comprado nas próximas captações por um valor maior”, afirmou.

Essa possibilidade, porém, pode trazer grandes riscos para quem está do outro lado da feira. Segundo o coordenador acadêmico da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e MIT Technology Review Brasil, André Miceli, o indivíduo que foi para a feira com o intuito de encontrar bons investimentos deve tomar cuidado.

“É necessário investir em muitas startups, visto que a grande maioria acaba não rendendo e apenas uma produz bons lucros”, disse. Por isso, Miceli não recomenda para o indivíduo que nunca entrou nessa modalidade de investimentos começar agora.

A cautela é aplicada na prática por participantes desse mercado. É o que tem feito o CEO da MKM Biotech, Carlos Zago. O empresário, que investe em startups do setor de pesquisa científica, afirmou para a DINHEIRO que está com uma maior aversão ao risco nos seus investimentos.

“Depois que os juros subiram, passamos a olhar as startups com mais cuidado. Estamos analisando a rentabilidade real da empresa e vendo se o plano de negócio realmente é tangível”, disse. Por isso, ele afirma que com os juros elevados, quem quiser mais captações e investimentos vai precisar mostrar números mais atrativos. “Isso acontece porque o custo do capital fica maior, é algo do ciclo econômico”, afirmou.