Em um mundo onde predomina a moda massiva, veloz e movida por tendências momentâneas, uma grife que leva meses para produzir uma única peça pode parecer não só contraproducente como inviável. Ainda mais se a peça for feita a mão por tricoteiras. Mas essa é a realidade da Lolitta. A marca criada há 15 anos por Lolita Hannud se consolidou justamente com o modo de fazer artesanal e com o tricô.

Com duas lojas físicas em São Paulo, nos shoppings Iguatemi e JK, a Lolitta inaugurou em maio seu terceiro ponto, com área de 350 m2 na região dos Jardins, também na capital paulista. A estratégia é ter um espaço de encontro para envolver os clientes no universo da marca e expor as peças como obras de arte.

A loja recém-inaugurada reúne diversas criações, que passam pelas cinco linhas da Lolitta. Além da principal, há a de Edição Especial, com peças mais trabalhadas e artesanais e que demoram mais tempo para serem produzidas:

Nud, com peças mais básicas;

Sand, de moda praia;

Loli, para crianças.

Além delas, no segundo andar há uma espécie de ponta de estoque, com coleções antigas a preços mais baixos.

“A proposta é trazer a experiência para a cliente, para que ela possa se envolver, conseguir escutar a história e sentir o produto”.
Lolita Hannud, CEO e diretora criativa

Com metade das vendas realizadas pelo canal multimarca e forte presença no e-commerce, ter um espaço maior dedicado a esse relacionamento ganha relevância. Além de favorecer a fidelização, os pontos físicos atendem a uma necessidade da clientela.

Segundo a consultora em gestão de negócios da moda Francine Pacheco, os consumidores valorizam a proximidade com as marcas e “querem viver experiências”.

Por isso, a nova loja tenta trazer fluidez na decoração, com elementos curvilíneos, luz natural e um jardim. Há manequins fixados no teto que criam uma atmosfera de museu, com as peças no ponto central da exposição.

(Divulgação)

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Slow fashion

Com uma proposta de moda atemporal e slow, o tricô é peça fundamental nos looks. Para Lolita Hannud, “a moda não é descartável”, disse. “Toda vez que a gente olha para um caminho, pensamos muito se ele é duradouro ou se é um desejo do momento, uma emoção ou paixão que vai sumir”.

Esse posicionamento coloca a empresa em linha com discussões sociais e ambientais importantes do setor têxtil, principalmente quando analisado o impacto dos resíduos e do consumo excessivo de roupas.

O uso da técnica também está relacionado com a própria história da fundadora, que cresceu em meio à tecelagem da mãe.

Para a consultora Francine Pacheco, o tricô perpassa a passagem do tempo, sempre se reinventando. “Ele apela para a memória afetiva e para o design emocional das pessoas.” Além disso, combina muito com o clima brasileiro. “São peças ricas e únicas que emitem a identidade do nosso País”, disse.

Outra aposta da marca são as bandagens. O design justo sempre fez parte do estilo Lolitta, que busca valorizar a silhueta feminina. Esse compromisso foi reforçado depois do período no qual os closets foram dominados pelo casual, durante o isolamento da pandemia.

Para a empresária, isso já ficou no passado. “A gente morreu com um monte de roupa casual na Lolitta no ano passado. Apostamos nisso, e a cliente não quer saber, ela quer a roupa mais bacana e estar bem vestida”, afirmou.

Lolita Hannud CEO da Lolitta: “Toda vez que olhamos para um caminho, pensamos se ele é duradouro ou se é um desejo do momento que vai sumir” (Crédito:Divulgação)

Após ganhar relevância no Brasil, a Lolitta busca consolidar seu espaço no exterior. A marca exportava produtos no passado, mas a lógica de produção não combinava com os prazos que a logística demandava, o que fez a criadora mudar de planos.

Atualmente o foco são multimarcas de luxo em países selecionados, como Estados Unidos, Inglaterra e França.