O relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Golpistas de 8 de janeiro, deputado Hermeto Neto (MDB), usou a tribuna da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) durante o depoimento de um dos investigados para mentir, na tentativa de livrar os policiais militares flagrados pelo Estadão bebendo água de coco enquanto os prédios dos Três Poderes eram invadidos.

O parlamentar acusou a reportagem de tirar a foto de contexto. Segundo o deputado, a fotografia teria sido tirada às 11h da manhã, mas os metadados do dispositivo usado para fazer o registro comprovam que ele foi realizado às 15h50 do dia da invasão.

A captura foi feita logo na chegada da reportagem à Esplanada dos Ministérios no dia 8 de janeiro. No momento em que a fotografia foi tirada, o Congresso, o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto já se encontravam depredados pelos golpistas. Na versão do deputado Hermeto, não havia “um manifestante na Esplanada dos Ministérios” no momento em que a foto foi feita. A acusação ocorreu após o presidente da CPI, deputado Chico Vigilante (PT), afirmar que os policiais bebiam água de coco enquanto os prédios do Executivo, Judiciário e Legislativo eram depredados.

“Vossa Excelência disse que tinham policiais tomando água de coco. Tem que esclarecer que os policiais tomaram águam de coco eram praticamente acho que eram 11h ou 10h da manhã. Não tinha um manifestante na Esplanada dos Ministérios e a grande mídia fazia ligação que nesse exato momento que estava sedo invadido os policiais estavam tomando água de coco, e não é verdade. Não tinha um manifestante ainda”, afirmou.

Às 15h do dia 8 de janeiro, os veículos de imprensa passaram a noticiar a invasão do Congresso – primeiro prédio a ser tomado pelos golpistas. Esta foi a segunda vez que mentiras sobre o registro da água de coco foram contada na CPI dos Atos Golpistas. No último dia 28 de abril, a coronel Cíntia Queiroz, que também atua como subsecretária de Operações Integradas da Secretaria de Segurança Pública do DF, alegou que a foto foi tirada de contexto e que teria sido feita de manhã, antes da invasão.

“A gente tem que tomar muito cuidado. Por exemplo, a imprensa muitas vezes divulga uma imagem fora de contexto. Por exemplo a Polícia Militar, foi divulgada uma imagem de três policiais no dia 8 de dezembro (sic) tomando água de coco, como se aquilo tivesse acontecido às 15 horas da tarde, no horário da invasão, mas isso aconteceu às 8 horas da manhã”, disse Cíntia.

A coronel foi alvo de uma proposta de indiciamento por prevaricação no dia 8 de janeiro proposta pela Corregedoria da Polícia Militar do DF. Ela foi responsável por um dos planos de contenção e controle de multidões elaborado pela Secretaria de Segurança Pública da capital para lidar com as manifestações convocada para aquele dia. Cíntia alega em sua defesa que nunca prevaricou e que o plano elaborado seguiu os atos normativos previstos pela legislação e pelo regramento do governo do DF.

Procurado pela reportagem, o deputado Hermeto não havia se manifestou até a publicação deste matéria. Sua assessoria afirmou que retornará com as informações ao término da sessão na CLDF.