A desigualdade social e má distribuição de renda se agravaram no Brasil desde o início da pandemia. A edição especial de 25º aniversário do Relatório de Riqueza Mundial 2021 (no original, World Wealth Report), elaborado pela Capgemini e divulgado em Paris na quinta-feira (1º), mostra a dinâmica de crescimento da riqueza no mundo e lança um alerta para o Brasil. O estudo apontou que o número global de indivíduos com alta renda cresceu 6,3% em 2020, ultrapassando a marca de 20 milhões de pessoas. Suas riquezas somadas cresceram 7,6% em 2020, atingindo o valor de quase US$ 80 trilhões.

No Brasil, no entanto, o número de milionários decresceu em 6,6%. Eram 198,8 mil brasileiros nessa condição em 2019 e, no ano passado, o número fechou em 185,6 mil. Mesmo com essa queda, a concentração de recursos aumentou de US$ 4,766 bilhões para US$ 4,779 bilhões. Pode parecer pouco, mas é preciso levar em conta dois fatores macroeconômicos para contextualizar melhor esse número: a queda do PIB foi de 4,1%. E o real teve forte desvalorização frente ao dólar.

“O cenário econômico no geral não foi positivo em 2020, especialmente pelos efeitos da pandemia”, afirmou Fabio Cossini, da Capgemini Brasil. Segundo ele, isso se refletiu nos indicadores gerais do número local de indivíduos com alta renda. “A recuperação no final do segundo semestre freou um pouco a queda do PIB mas não foi suficiente ou rápida o bastante como em outros países para melhorar os indicadores”, disse.

No campo social, o estudo enfatiza a alta taxa de desemprego no Brasil. Em 2019, 12,1%, estavam sem emprego no País. O dado mais recente, divulgado pelo IBGE na semana passada,  aponta para 14,7% da população economicamente ativa, o que equivale a 14,8 milhões de pessoas.

O que a frieza desses números não diz é que o Brasil segue acumulando problemas sociais e apresenta um dos maiores níveis de desigualdade do mundo. Se esses são fatores que inibem o aumento de indivíduos com renda acima do US$ 1 milhão, suas consequências podem ser devastadoras para a sociedade. Como afirmou o presidente do conselho da Fundação Dom Cabral, Emerson de Almeida, em entrevista à DINHEIRO, “A falta de recursos, de emprego e a fome podem acabar com o estilo amigável da população. Existem ameaças que podem nascer de uma convulsão social”