Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) – A Justiça do Paraná determinou nesta segunda-feira a prisão preventiva de Jorge Guaranho, o agente penitenciário que matou o guarda municipal Marcelo Arruda, durante sua festa de aniversário, que tinha como tema o PT e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no último sábado.

Em resposta ao pedido do Ministério Público Estadual, a Justiça paranaense concedeu a prisão sob a alegação que Guaranho “coloca em risco a ordem social” e que sua reclusão é necessária porque, “aparentemente por motivos de cunho político, praticou atos extremos de violência contra a vítima, que sequer conhecia”.

Guaranho, que é apoiador do presidente Jair Bolsonaro, segue internado em um hospital de Foz do Iguaçu.

Guaranho é defensor ferrenho de Bolsonaro. Em suas redes sociais, em que se define como conservador e cristão, o agente penitenciário defende a candidatura do presidente e o porte de armas, tem fotos com o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente, e repercute publicações de parlamentares ligados ao presidente.

Marcelo Arruda foi morto por Guaranho na noite de sábado durante a comemoração de seu aniversário de 50 anos no salão da associação de servidores de segurança na usina de Itaipu. Arruda era tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu.

De acordo com amigos de Arruda ouvidos pela Reuters, Guaranho não era conhecido do guarda municipal nem de nenhum dos presentes. André Alliana, que diz ser um dos melhores amigos de Arruda, conta que o guarda municipal estava na cozinha da associação quando Guaranho apareceu no local pela primeira vez.

“Ele parou o carro e começou a gritar ‘aqui é Bolsonaro’ e outras coisas. Nós chamamos o Marcelo achando que era brincadeira, que era outro amigo dele eleitor de Bolsonaro, para ele ir recebê-lo”, contou Alliana.

Por ser da área de segurança pública, Arruda tinha vários amigos eleitores de Bolsonaro, que tem nos agentes de segurança uma importante base eleitoral, e muitos estavam na festa, segundo seu amigo.

“Quando ele foi lá viu que não era brincadeira, o cara estava xingando de verdade. Ele mandou o cara embora, ele mostrou a arma, Marcelo jogou um negócio dele e ele foi embora dizendo que ia voltar. Eu estava do lado dele, perguntei quem era, ele me disse: ‘sei lá, não conheço, um maluco. Mandei ele embora, ele disse que ia voltar'”, disse Alliana.

Nesse meio tempo, antes de Guaranho voltar ao local, Arruda foi buscar sua arma, que estava no carro, como forma de precaução. Sua esposa, que é policial civil, foi fechar o portão da associação para tentar evitar que Guaranho de fato voltasse.

“Mas o portão não tem cadeado. Quando voltou, depois de deixar a esposa em casa, ele parou o carro, abriu o portão, e entrou. Ele chegou ao salão já com a arma em punho. Marcelo apontou para ele mas não atirou. Ele e a Pamela (esposa de Arruda) gritavam ‘polícia, baixa a arma’, mas ele não atendeu e atirou no Marcelo. Uma atingiu a perna, a outra foi pelas costas, na terceira a Pamela empurrou ele e o tiro foi parar na parede, só aí que Marcelo revidou”, contou o amigo do petista.

Uma das coisas que intrigam os amigos de Arruda é como Guaranho chegou ao local da festa. O salão da associação fica na periferia de Foz de Iguaçu, em uma pequena rua sem saída, e lá não há nenhuma outra estrutura além do salão e da casa do caseiro.

“O que ficamos sabendo depois é que ele (Guaranho) era sócio também da associação e as imagens ficam disponíveis para os sócios na internet. Talvez tenha sido isso”, disse Alliana.

MINUTO DE SILÊNCIO

Arruda será enterrado hoje em Foz do Iguaçu. A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), esteve no domingo no velório do petista. Nesta segunda, durante uma reunião da coordenação política, Gleisi dedicou a reunião a Arruda e foi feito um minuto de silêncio.

“Infelizmente temos um movimento que prega isso (violência política) e que é sustentado pelo presidente da República atual”, disse Gleisi.

Em entrevista no Palácio do Planalto. Bolsonaro afirmou que condena toda violência, ao mesmo tempo que afirmou que não pode ser responsabilizado pelo caso de Foz.

O presidente, no entanto, usa frequentemente uma retórica inflamada ao se referir a adversários políticos –particularmente a Lula e ao PT. Na campanha eleitoral, durante discurso no Acre, Bolsonaro defendeu “metralhar a petralhada” no Estado. Nesta segunda, em conversa com apoiadores, se referiu a adversários políticos como “esquerdalha podre”.

Em entrevista à imprensa internacional nesta segunda, o procurador-geral da República, Augusto Aras, disse que não poderia tomar providências no caso envolvendo o assassinato do petista no Paraná, porque ele está na esfera de atribuições do Ministério Público estadual.

“Por enquanto esse fato é da atribuição do MP estadual do Paraná e não nos compete emitir qualquer juízo de valor. É evidente que, a depender do encaminhamento das investigações, se surgirem fatos que envolvam bens e interesses públicos federais, isso pode ganhar uma outra conotação e passar para o Ministério Público Federal e aí nós teríamos uma relação direta com o fato”, disse.

Ainda assim, Aras afirmou que um representante do MPF do Paraná vai acompanhar o desdobramento do caso, mas sem qualquer atuação judicante.

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