A usual crítica dos céticos sobre os investimentos das empresas em programas sociais e ambientais está com os dias contados. “São apenas custos”, afirmam os executivos. “Não geram retorno financeiro mensurável”.

No último dia 12 de fevereiro, a multinacional francesa de alimentos Danone realizou um acordo pioneiro com bancos privados, que representa um passo concreto na direção de derrubar este argumento de quem é movido apenas por dados financeiros.

Trata-se de um mecanismo que ajusta o custo financeiro de uma dívida de 2 bilhões de euros conforme a evolução do desempenho dos indicadores socioambientais da companhia. A revisão será realizada, ao menos, uma vez por ano e considerará o rating da Danone em avaliações públicas de três instituições externas independentes, já definidas em contrato.

Seguramente é uma quebra de paradigma que pode repercutir em todo o modelo de avaliação socioambiental do sistema financeiro. Afinal, envolve um conjunto de bancos liderados pelo francês PNB Paribas e que inclui também Societé Generale, Crédit Agricole, Natixis, HSBC, Citibank, JPMorgan, Barclays, ING, NatWest, MUFG e Santander.

A iniciativa também coloca a avaliação da chamada performance ASG (ambiental, social e de governança) em outro patamar de relevância. O acordo prevê que o custo do capital emprestado à companhia esteja vinculado aos escores obtidos nas análises das agências Sustainalytics e Vigeo Eiris e à porcentagem das vendas consolidadas da Danone cobertas por certificações B Corp.

Isso significa que, se mais e mais negócios da Danone forem certificados com B Corp, a exemplo do que aconteceu com algumas operações nos Estados Unidos, isso influenciará positivamente o custo de parte da dívida da companhia.

É claro que não se pode incorrer no erro de limitar a tomada de decisão do investimento social e ambiental tão somente ao retorno financeiro. Há uma série de outras variáveis que devem ser consideradas, como por exemplo as demandas dos stakeholders, as necessidades de contenção de riscos ou de geração de oportunidades de inovação dos negócios.

No entanto, a falta de um vínculo com a variável financeira era uma vulnerabilidade do modelo de avaliação dos investimentos, que muitas vezes restringia os benefícios aos ganhos intangíveis, como melhoria da reputação de marca ou de nível de engajamento dos públicos, retornos altamente relevantes, mas que abriam espaço para as críticas dos executivos não convertidos.

Há um esforço crescente das companhias líderes em sustentabilidade de quantificar o impacto de suas atividades. Alguns métodos inovadores estão monetizando os custos das externalidades, aqueles efeitos que não são contabilizados, como o uso de recursos naturais decorrentes do consumo ou pós-consumo, geralmente não considerados pelos produtores e que recaem na conta da sociedade.

Este acordo da Danone com os bancos privados, por sua vez, altera a regra do jogo. Cria um mecanismo de premiação da companhia por sua evolução de performance socioambiental, o que antes somente parecia possível por meio de acesso a capital de bancos de fomento. Tem o potencial de mudar a forma como esses investimentos são percebidos por analistas de mercado, executivos e acionistas. E, assim, acelerar a adoção de práticas mais sustentáveis nos negócios.