As ações da Americanas (AMER3) se encerraram nesta sexta-feira (13) com alta de 15,8%, a R$ 3,15. Na véspera, os ativos recuaram 77,33% após a companhia anunciar um rombo de R$ 20 bilhões que não estavam explícitos no balanço. Além disso, a empresa comunicou na noite de quarta-feira (11) a renúncia do novo CEO Sergio Rial, ex-Santander. 

Para o analista chefe e sócio da Harami Research Fábio Sobreira, a alta de hoje é apenas uma correção após o tombo do dia anterior. “O mercado está apenas reavaliando se a queda de quinta-feira não foi exagerada” disse. Ele comenta que os investidores aguardam os próximos passos concretos da empresa. “A dúvida agora é saber se o aumento de capital vai funcionar e como isso vai acontecer”, disse.

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Em coletiva com acionistas e jornalistas na manhã de quinta-feira (12), o antigo CEO da Americanas, Rial,  afirmou que passou dias olhando os balanços da empresa e notou uma série de inconsistências. Uma delas, é a forma como o endividamento foi colocado. 

O modelo de negócios da Americanas, chamado de risco sacado, faz uso do capital de bancos para se manter. Por exemplo, a empresa compra um celular de uma determinada fabricante e pede para os bancos fazerem o pagamento do produto. Assim, a companhia fica com uma dívida com as instituições financeiras. O valor é pago para os banqueiros em um prazo maior, e eles recebem um juros sobre o montante.

Segundo o analista da Empíricus Fernando Ferrer, o grande problema foi que ao longo de anos a empresa fez essa demonstração contábil “em linhas erradas do balanço”. “Esse serviço financeiro deveria estar na parte de dívidas, o que faria ele ser abatido no lucro, diminuindo os ganhos da empresa. Mas a companhia alocava em fornecedores, o que deixava o resultado trimestral maior.”

Ele comenta que o grande problema de fazer isso é que houve uma diminuição na transparência com o investidor, visto que se o rombo descoberto de R$ 20 bilhões eleva o indicador dívida líquida sobre Ebitda para 8 vezes. “O ideal para o setor da Americanas é ter esse indicador em no máximo 3,5 vezes. Se o mercado soubesse disso, teria muito mais receio de investir no ativo”, afirmou Ferrer.

Para o futuro, os analistas esperam muita incerteza e preferem que os investidores se mantenham longe do ativo. Segundo Ferrer, a dívida total da Americanas, somando a que o mercado já sabia com os R$ 20 bilhões encontrados, pode chegar a R$ 30 bilhões.

 “Isso vai exigir muito da empresa, visto que ela tem um caixa de R$ 8 bilhões”, afirmou. Ele explica ainda que o melhor é o investidor não se arriscar, pois é provável que a companhia faça um aumento de capital para sanar as dívidas, o que tende a diluir a participação acionária de quem possuir o papel. “Esse fator vai exigir novas compras da ação apenas para manter o mesmo percentual, o que não compensa”, disse.